Aircross: um Citroën brasileiro


Não é exagero dizer que o Aircross é o maior lançamento da história da Citroën no Brasil. Certamente o início da produção nacional do C3, em 2003, ajudou a ampliar a participação de mercado da marca francesa no país, mas o Aircross, que também é um C3, supera a importância do “irmão” por ter grande parte de seu desenvolvimento a cargo da filial brasileira. Foi isso que trouxe até mesmo o presidente mundial da marca ao Rio de Janeiro para o evento de lançamento do modelo.

Antes de conhecer a novidade a fundo é preciso entender o projeto do carro, um híbrido entre o C3 nacional e o C3 Picasso, este vendido apenas na Europa. Para começar, o Aircross, cujo nome oficial é Citroën C3 Aircross, não é uma versão nacionalizada do C3 Picasso. Fabricado em Porto Real, RJ, ele usa a plataforma do C3 nacional (que é produzido na mesma unidade) com 80 mm a mais de extensão. O visual, por sua vez, é "quase" o do C3 Picasso.

O Aircross, no entanto, traz muitas diferenças. As maiores se concentram na dianteira e no interior, desenvolvidos especialmente para o modelo nacional. A lateral e a traseira têm mais semelhanças com o carro europeu, mas os adesivos abaixo das portas e o estepe do lado de fora do porta-malas são exclusividades brasileiras.

Preços agressivos e público jovem

A Citroën surpreendeu positivamente ao divulgar os preços do Aircross. A expectativa girava em torno de uma faixa entre R$ 55.000 e R$ 65.000, mas a marca fixou os valores da versão de entrada, GL, em R$ 53.900, e da top de linha, Exclusive, em R$ 61.900. A intermediária, GLX, custa R$ 56.400. “Esta é a versão em que mais apostamos para o mercado brasileiro”, explica Nívea Morato, diretora de marketing da Citroën. “Queremos vender 2.000 carros por mês”, completa Ivan Ségal, presidente da Citroën Brasil.

Desde a opção mais simples o Aircross já traz ar-condicionado, direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos. A GLX agrega faróis de neblina, vidros traseiros elétricos, sistema “one touch” de acionamento dos vidros, banco do motorista com regulagem de altura, CD player com comando no volante e entrada auxiliar, bússola, inclinômetro horizontal e vertical, bancos de veludo e roda de liga leve de 16”. Não há freios com sistema ABS (antitravamento) em nenhumas dessas duas versões e somente a GLX oferece airbag duplo como opcional por R$ 1.300.

Já a GLX tem os equipamentos de segurança mais alarme, controlador de velocidade de cruzeiro, ar-condicionado digital, mesas tipo “avião” nos bancos traseiros, CD player com 6 alto-falantes e Bluetooth, pedais esportivas, revestimento cromado nas maçanetas e retrovisores e bancos de couro, entre outros. A pintura metálica para todas as versões custa R$ 710, e na Exclusive ainda é possível adquirir o Pack Technologique (R$ 2.300), que oferece airbags laterais, sensores de estacionamento, de chuva e de acendimento automático dos faróis. O navegador, também opcional, custa R$ 2.400 a mais. A ideia da marca é conquistar um público de 30 anos em diante.

Jeitão de SUV, tocada de hatch

É até complicado achar uma definição para o Aircross. Pela altura e pelo espaço interno ele até parece um SUV, mas as linhas da lateral e o teto alto também dão ao modelo um ar de monovolume. A Citroën chama sua criação de "off-road light premium”, mas dá para desconfiar que essa classificação não será muito citada numa roda de amigos onde a conversa é carro.

Da natureza híbrida do Aircross, porém, nasceu um modelo que tem muito mais características de hatch que de SUV ao volante. Equipado com o mesmo motor 1.6 16V de 113 cv a 5.800 rpm e 15.8 kgfm de torque a 4.500 rpm do C3, o SUV/monovolume/off-road light premium obviamente é menos esperto que o hatch, mas não sofre por falta de potência.

É preciso trabalhar em rotações mais altas, como é comum em motores com 4 válvulas por cilindro. E aí a intimidade com o câmbio, que deixa a desejar com engates imprecisos, é fundamental. Se você tem ou já dirigiu um C3 sabe exatamente do que se trata.

A posição de dirigir também lembra muito mais a de monovolumes como Chevrolet Meriva e Fiat Idea que a de SUVs como Chevrolet Captiva ou Honda CR-V. O banco é alto, a posição da direção é mais horizontal e os olhos do motorista avançam sobre o para-brisa. A visibilidade, aliás, é um dos pontos fortes do modelo.

O acabamento é outro item que merece elogios. Os materiais do interior têm boa qualidade e os cromados no volante (o mesmo do modernoso DS3, que será vendido no Brasil em breve) e nas saídas de ar dão um toque mais refinado ao Aircross. O “pênalti” fica por conta do painel de instrumentos, muito simples para um carro de mais de R$ 50.000.

Na hora de enfrentar os buracos, mais boas surpresas. A Citroën, que sofre para ajustar as suspensões de seus carros às péssimas condições dos pisos brasileiros, fez um bom trabalho no Aircross, que transfere poucas imperfeições do asfalto ao volante.

Já na hora de abrir o porta-malas, porém, o mesmo inconveniente de quase todos (o Ford EcoSport é a exceção) os “off-road light”: é preciso deslocar o estepe antes. No Citroën, deve-se pressionar o botão escondido sob a tampa do bagageiro ou acioná-lo por meio da chave. Em seguida, puxa-se uma alavanca para soltar o suporte do pneu sobressalente.

Não é nada prático, mas como a Citroën diz ter estudado bastante o mercado brasileiro antes de lançar o carro, percebeu que por aqui não tem nada demais sacrificar um pouco da praticidade em benefício do visual. Funcionou com as outras marcas.

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