MINI chega ao Brasil com charme e preço um tanto alto


Quem viaja à Europa e gosta de carros costuma voltar ao Brasil inconformado com duas coisas, principalmente: o fato de o carro a diesel ser proibido por aqui e de muitos modelos europeus não estarem à venda por aqui. Dois deles eram motivo especial de revolta: o smart fortwo e o MINI. Um, com todas as letras minúsculas. O outro, com todas maiúsculas. Pois agora os dois estão no país. Pena que não a preços europeus (que teriam de vir acompanhados de salários europeus). E o MINI parece ter preço mais exagerado que o do smart, mas não tem.

Vendido em Portugal por 13.036,92 euros na versão Passion coupé com motor de 84 cv, o smart fortwo, se viesse ao Brasil sem impostos, custaria R$ 37.320,79 ao câmbio de hoje. Com preço de venda de R$ 57,9 mil, a diferença representa um acréscimo de preço de 55,14%.

O MINI, por sua vez, sai, na versão Cooper, por 22,65 mil euros no mesmo país europeu. Por aqui, ele custaria R$ 64,84 mil, sem impostos e também ao câmbio de hoje. Vendido no Brasil a R$ 92,5 mil, seu valor em reais é 42,7% superior ao valor que os portugueses pagam. É um valor extra proporcionalmente menor que o adicionado ao smart fortwo, mas ainda custa um bocado, mesmo na Europa.

Isso porque, apesar de oferecer espaço interno para apenas duas pessoas, o fortwo se justifica pela proposta mais racional: a de ocupar menos espaço nas cidades e de levar sempre apenas as duas pessoas que a maioria dos carros costuma carregar. O MINI, por outro lado, oferece quatro lugares e um portas-malas de 160 l. Se olharmos friamente, é mais ou menos o mesmo que o Ford Ka antigo fazia.

É evidente que o MINI Cooper traz muito mais itens de segurança e conforto, além do que se pode chamar de charme britânico, com o velocímetro no centro do painel, o conta-giros que acompanha o volante regulável em altura e distância, o interior com cinco iluminações de cores diferentes, o computador de bordo, a chave, que se encaixa em um nicho do painel, com partida por botão (sistema semelhante ao do Renault Mégane, com a diferença de a chave não ser uma peça arredondada, mas sim um cartão) e a história que completa 50 anos este ano. Ainda assim, quando se vai ao âmago do carro, o que ele oferece é exatamente o que dissemos acima.

O tal charme pode chegar a prejudicar o carro. Os puxadores das portas, seguindo os temas arredondados do MINI, são ruins de acionar, pequenos, mais voltados a mãos femininas do que a masculinas, apesar de a BMW dizer que o público do carro é eminentemente formado por homens.

O que se nota é que a relação com o MINI será eminentemente emocional, mais por seus atributos de estética e desempenho que por espaço interno, segurança, consumo ou preço. É por isso que a BMW aposta na versão Cooper S como a vedete de vendas, o que é fácil de explicar: ela oferece 175 cv em um carro de pouco mais de uma tonelada, o que, para quem aprecia esportividade, pode justificar qualquer preço (até os R$ 119,5 mil cobrados pelo Cooper S).

Também é por isso que o MINI One, a versão mais barata do carrinho, no exterior, não vende tão bem nem por lá nem venderia aqui. Quando comparado a carros na mesma faixa de preço, 17,6 mil euros, o MINI oferece menos.

O Opel Corsa na versão Cosmo, a topo de linha, com motor semelhante, um 1,4-litro a gasolina de 90 cv (o MINI One tem um motor 1,4-litro de 95 cv), custa 18,1 mil e traz mais espaço interno e um porta-malas de 285 l. Sem o apelo da performance, o MINI se torna, como o VW New Beetle, apenas um carro chamativo, para destacar seu dono na multidão. A expansão da linha MINI no Brasil, por isso, se dará com as versões conversíveis, a John Cooper Works e a futura Crossman.

Ao volante

Ainda que tenha bons 2,47 m de entreeixos para um carro pequeno, o MINI tem bancos baixos. Isso favorece bastante motoristas que gostam de uma posição esportiva de dirigir, mas sacrifica os passageiros, especialmente os do banco traseiro, que viajam com as pernas arqueadas. O MINI é um carro feito apenas para quem o dirige, como um kart. Nisso eles realmente se parecem.

O acabamento de um carro tão caro deveria ser primoroso, mas o puxador da porta tem rebarbas de plástico, algo que os mais perfeccionistas vão ter de relevar pensando no tal charme britânico que já citamos. Se isso for suficiente.

Adoraríamos ter andado nas três versões do carro, especialmente na Cooper S, a que promete, com razão, ser a mais vendida, como já explicamos acima. Mas a BMW, que distribui o carro oficialmente no Brasil, colocou apenas a Cooper para avaliação, dentro de um kartódromo.

Isso prejudicou bastante as impressões ao dirigir, que ficaram limitadas a um ambiente estranho ao carro. Por mais que ele ande como um kart, como a BMW afirma, o melhor seria ter essa sensação nas ruas, não em um kartódromo. Ali, o rei é outro e qualquer automóvel comum, por melhor que seja, ficará deslocado. Inclusive o MINI.

É certo que o MINI é um veículo caro, o que impede a empresa de ter uma frota grande para avaliações, mas teria sido melhor fazer um evento com grupos menores de jornalistas. Se fossem dois por carro, isso daria três grupos de 12 jornalistas, considerando os 35 que foram ao evento. O ideal seria também que esses grupos pudessem ter rodado com os carros em circuito urbano e rodoviário, a exemplo do que foi feito com o smart fortwo. Assim seria possível conhecer melhor o MINI: em seu real ambiente.

Também queríamos fotos dos carros no Brasil, com placas nacionais. Normalmente essas imagens de divulgação estão no material de lançamento do veículo, mas o nosso não as continha. A BMW divulga em seu site apenas as imagens feitas no exterior. As que foram feitas pela empresa no evento só chegaram a nós há pouco. Por mais que tenham demorado (andamos ontem no carrinho), preferimos esperar por elas em vez de deixar nossos leitores esperando para ver um MINI com placa cinza, algo que deve ficar restrito a São Paulo e Curitiba, por enquanto.

Mesmo com tantos problemas na apresentação, o belo motor 1,6-litro de 120 cv, os câmbios de seis marchas (manual ou automático) e a posição baixa de dirigir divertem. A pergunta que vale fazer é: por R$ 92,5 mil? Se o objetivo for mais de imagem, de ter um carro chamativo, do que de diversão, talvez. Se for apenas diversão, um Honda Civic SI pode divertir mais. E olha que ele já custa caro...

FICHA TÉCNICA – MINI Cooper

MOTOR Quatro tempos, quatro cilindros em linha, transversal, quatro válvulas por cilindro, refrigeração a água, a gasolina, 1.598 cm³
POTÊNCIA 120 cv (88 kW) a 6.000 rpm
TORQUE 160 Nm a 4.250 rpm
CÂMBIO Manual ou automático de seis velocidades
TRAÇÃO Dianteira
DIREÇÃO Por pinhão e cremalheira; elétrica
RODAS Dianteiras e traseiras em aro 16”,de liga-leve
PNEUS Dianteiros e traseiros 195/55 R16
COMPRIMENTO 3,70 m
ALTURA 1,41 m
LARGURA 1,68 m
ENTREEIXOS 2,47 m
PORTA-MALAS 160 l
PESO (em ordem de marcha) 1.065 kg (manual) e 1.105 (automático)
TANQUE 40 l
SUSPENSÃO Dianteira independente, tipo McPherson; traseira independente, multibraço
FREIOS Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira
CORES Sólidas: Vermelho Chili, Amarelo Suave, Azul Oxigênio e Branco Pepper; metálicas: Astro Black (preto), British Racing Green (verde),Prata Puro, Prata Borbulhante, Azul Relâmpago e Vermelho Fogueira
PREÇO R$ 92,5 mil (manual) R$ 98,5 mil (automático)

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