GM capitula e entra em concordata nos EUA



Sem quebras de vendas ou produção, empresa pretende eliminar operações e fábricas deficitárias até 2012 ....



O anúncio, mais do que esperado, chegou: a GM dos EUA não conseguiu se reestruturar sem ajuda do governo norte-americano. A capitulação veio sob a forma da concordata, chamada de Capítulo 11, e incluirá o fechamento de 14 fábricas até 2012, com a manutenção de apenas 4 das 12 marcas atualmente sob o controle da empresa. A GM agora será apenas Chevrolet, Buick, Cadillac e GMC. Com a reestruturação, a GM espera ter todas as suas fábricas nos EUA trabalhando a pleno vapor em 2012, em um mercado previsto para ficar em 10 milhões de carros por ano. Segundo a empresa, as operações no exterior não serão afetadas pelo pedido de concordata.

O encolhimento do mercado norte-americano, que já chegou a ser de 17 milhões de unidades, exigirá um ajuste amargo. Dos 35,1 mil empregados mensalistas da empresa nos EUA, cerca de 7.900 serão demitidos. Isso sem falar nos operários que devem ficar sem emprego com o fechamento das 14 fábricas que a GM enxerga como deficitárias. O número exato de demitidos ainda não foi definido.

Com menos vendas, a rede de concessionários da GM nos EUA cairá dos atuais 6.246 para 3.605 até o final de 2010. Serão fechadas 2.641 concessionárias, número possivelmente maior que o de concessionárias que existem no Brasil inteiro. Com isso, a massa de desempregados também deve se ampliar, ainda que de modo indireto.

A empresa, hoje, tem patrimônio estimado em US$ 82 milhões, com uma dívida de US$ 172 bilhões. Se a dívida da GM fosse um país, ela seria comparável à Finlândia (cerca de US$ 180 bilhões de PIB) e cinco vezes o Uruguai (pouco menos de US$ 40 bilhões).

GM boa, GM ruim

Com a concordata, a GM deve se livrar de um de seus maiores problemas: os custos de produção mais altos que os da concorrência. Isso acontecia, principalmente, por conta dos acordos com os sindicatos, com salários/hora mais altos que os praticados em fábricas mais novas e custos com aposentados, funcionários com restrições médicas e planos de saúde.

Outro fardo eram as empresas que não tinham mais uma participação de vendas relevante, como a Hummer, a Saturn e a Pontiac, que já teve sua morte anunciada para 2010. Isso, evidentemente, se nenhuma marca estrangeira se interessar por comprá-la. Apesar de a crise ter tido efeitos graves sobre os fabricantes norte-americanos, ela deve servir aos interesses de diversas empresas. Muitas montadoras buscaram modos de participar do mercado automotivo dos EUA sem sucesso. O melhor caminho tende a ser comprar uma marca que já existe, vendendo veículos novos sob um emblema conhecido.

No que se refere às empresas no exterior, a GM confirmou as negociações com a Magna para a venda da Opel e da Vauxhall. Ambas, agora, fazem parte da Adam Opel GmbH, empresa que receberá ajuda de 1,5 bilhão de euros do governo alemão para se manter produzindo seus veículos. E eles vêm recebendo muitos elogios, como o Insignia e o novo Astra.

O anúncio da venda frustra os planos da Fiat, que pretendia adquirir a Opel para atingir a marca de mais de 5 milhões de carros produzidos por ano. Segundo Sergio Marchionne, CEO da empresa italiana, esse é o único modo de uma montadora sobreviver no cenário atual. A empresa, de todo modo, deve se manter firme neste propósito. A compra da Chrysler já foi aprovada pelo governo dos EUA no processo de concordata que a marca norte-americana iniciou no final de abril deste ano.

Ainda não se sabe qual será o futuro de Daewoo, Saab e Holden. A Saab deve ser vendida à Koenigsegg, fabricante de veículos como o CCXR e o Quant, por ora apenas uma promessa. Daewoo e Holden devem ficar entregues à própria sorte. Se venderem bem, continuam de pé. Se não venderem, fecham as portas.

E o Brasil?

As operações da GM no Brasil devem ser bem pouco afetadas pela concordata da matriz. Primeiro, porque a GM, por aqui, é Chevrolet, e a Chevrolet continuará ativa na banda boa da empresa. Segundo, porque as vendas da marca no Brasil dão lucro consistente, há bastante tempo. Terceiro, porque os bons resultados garantiram à filial brasileira uma autonomia razoável. É a GM brasileira que pode ajudar a dos EUA, e não o contrário. Deste modo, quem quer que queira comprar um Chevrolet por aqui pode ficar tranqüilo. Dá para contar com a marca por aqui. Nos EUA, a empresa promete o mesmo. Resta saber se conseguirá cumprir.

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