Dia Mundial Sem Carro é ignorado em Fortaleza

A população não abriu mão do conforto de usar o próprio veículo, e as vias continuaram engarrafadas No Dia Mundial Sem Carro, comemorado ontem, as vias da Capital amanheceram do mesmo jeito, ou seja, os principais corredores engarrafados, buzinas tocando sem parar e motoristas tentando buscar atalhos na tentativa de fugir do sufoco das principais ruas e avenidas. Os transportes individuais não motorizados, como a bicicleta, mal eram vistos em meio ao grande volume de carros. A maior parte das pessoas sequer sabia que era o Dia Mundial Sem Carro, e muitos afirmaram que, mesmo se soubessem da data, não teriam condições de deixar o veículo em casa e ir ao trabalho de bicicleta ou de transporte público urbano. É o caso da contadora Thalita Monteiro, 24 anos, que mora no bairro Bonsucesso e trabalha no Joaquim Távora. Ela conta que não utilizaria a bicicleta devido ao percurso ser longo, ao sol forte, e à insegurança. "O ônibus não daria certo também, pois são muito lotados e passam a maior parte do tempo parados no engarrafamento", explicou. Era grande o número carros, que podem transportar até cinco pessoas, levando apenas o próprio motorista. Fato que comprova os dados divulgados, ontem, pelo Diário do Nordeste, que mostravam que, ao invés de aumentar o número de pessoas por veículos no Estado, a frota cresceu seis vezes mais do que a população. A situação local segue o mesmo ritmo do restante do País. É o que confirma o Comunicado Nº 113 - Poluição veicular atmosférica, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem. Poluição O estudo critica, especificamente, o uso do carro para transporte individual, um hábito comum entre os brasileiros. A análise apresenta também um panorama sobre as emissões de poluentes atmosféricos veiculares no Brasil e analisa o programa de controle e mitigação. Segundo o Ipea, todos sabem que, para respirar ar puro e circular livremente pelas vias de transporte, é necessário diminuir o uso do transporte individual, andar a pé, usar bicicletas, dar e receber caronas. No entanto, ninguém quer abrir mão do conforto de se locomover em veículo próprio sem a certeza de que os demais farão o mesmo. Entre as soluções apontadas para a problemática está o incentivo do uso de transporte público e de veículos sem emissões, com destaque para as bicicletas. De acordo com o Ipea, nos últimos 15 anos, o sistema de mobilidade urbana no Brasil se caracterizou pelo crescimento do transporte individual motorizado e consequente redução do uso do transporte coletivo. O documento aponta que, do ponto de vista da eficiência energética e ambiental, é uma tendência bastante preocupante. Outro aspecto que estimula o uso individual de veículos automotores, segundo o instituto, é o fato de que o uso de carros e motos pela população torna-se cada vez mais barato em relação ao custo de se utilizar o transporte público. O saturamento do sistema de transporte é a principal preocupação. Nos Estados Unidos, há 70 carros para cada 100 habitantes, enquanto, no Brasil, essa relação é de 15 para 100. A previsão é de que o País chegue à marca americana nos próximos anos. No Ceará, as taxas de poluição são desconhecidas, devido à ausência de dados atuais. Por conta disso, a análise do Plano de Controle de Poluição Veicular do Ceará (PCPV), ficou condicionada à elaboração dos Estudos Técnicos e do Inventário da Qualidade do Ar, que serão feitos pela Secretaria do Meio Ambiente (Semace) e apresentados ao Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) para apreciação e deliberação. Segundo o PCPV, os últimos dados são de 2003 e se referem apenas a alguns pontos da Capital. As informações mais atuais são de 2009 e 2010, mas tratam apenas da Avenida 13 de Maio, e apontam que a qualidade do ar estava de regular a boa. Pela pesquisa feita não ter periodicidade de análise, levando em consideração as estações do ano, e não ter abrangido o Interior, os dados não são representativos do Ceará. Ainda de acordo com o levantamento, 200 doenças estão associadas aos poluentes veiculares liberados na atmosfera, sendo o monóxido de carbono, o CO², o mais prejudicial. Os ruídos e os poluentes provocam danos sérios à saúde. No caso da poluição visual, o estudo do Ipea afirma que, os impactos estão associados à degradação e desvalorização do ambiente, com reflexos na economia. ÔNIBUS Etufor diz que investe para garantir maior fluidez A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) informou que tem feito investimentos na cidade para garantir maior fluidez e velocidade operacional dos ônibus, reestruturando linhas. Como exemplo, a Etufor citou que, somente este ano, três linhas expressas iniciaram operação, permitindo um deslocamento mais rápido, já que parte de seu percurso é expresso. São elas as linhas (087) Expresso/Siqueira/Papicu, (089) Expresso/Parangaba/Papicu e (094) Expresso/Parangaba/Aldeota, que circulam nos horários de pico da manhã e reduzem o tempo de viagem dos usuários. O presidente da empresa, Ademar Gondim, afirmou que um dos maiores desafios é dar velocidade aos deslocamentos destes transportes, pois os custos com desapropriação são enormes. "Com R$ 10 bilhões, eu compro 40 ônibus, mas com o mesmo valor eu não consigo indenizar habitações localizadas na Avenida Santos Dumont a Avenida Virgílio Távora", explicou Gondim. Mobilidade Já o Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor)disse estar investindo US$ 142 milhões em obras. As melhorias têm sido realizadas na infraestrutura da cidade e visam melhorar a mobilidade urbana para transportes motorizados e não motorizados. A primeira etapa dessas obras começou em 2008. O Transfor já implantou uma nova ciclovia na Avenida Mister Hull, com total de 2 Km, e se encontram em execução as das avenidas Bezerra de Menezes e Humberto Monte. Outras vias receberão ciclovias, como Sargento Hermínio, José Bastos, Augusto dos Anjos e Germano Franklin. A infraestrutura que está sendo implantada irá interligar as ciclovias que já existem e dar acesso a terminais. A primeira etapa do programa deve ser concluída em 2012.